quarta-feira, 25 de março de 2015

H1N1

Foi no dia 25 de Março de 2014, estava grávida de 35 semanas, era uma terça-feira e o aniversário do pai. Acordei com uma dor forte nas costas que não passava, assumi que seria do peso da barriga e fui tomar o pequeno-almoço.
Enquanto comia, liga-me o pai:
- Como estás?
- Estou bem - respondo com um pequeno gemido.
- O que é que se passa?
- Nada...
- Nada não, percebo pela tua voz que se passa algo e lembra-te do que a médica te disse, estás de 35 semanas não é altura para andares a fazer-te de forte. O que se passa?
- Doem-me as costas, é do peso da barriga.
- Se estás com dores o melhor é ires ao hospital.
- A dor já dura há mais de meia hora, claramente não são contrações, é uma dor contínua.
- Sabes o que a médica te disse, agora qualquer coisa e vais logo ao hospital...
- Mas não são contrações, são dores de costas por causa do peso da barriga - interrompo eu.
- Pelo menos liga para o hospital e fala com a médica e depois diz-me qualque coisa.
Ligo para o hospital, a médica não estava ao serviço e passam-me à enfermeira a quem explico estar a ser seguida ali na consulta de risco por causa de uma gravidez gemelar, estar de 35 semanas, e ter acordado com uma dor de coluna, que já durava há mais de 30 minutos, sendo que a minha obstetra me havia dito que qualquer sinal, perdas de sangue, contrações, etc., deveria ir logo à urgência. Expliquei também que só estava a ligar porque o meu marido me tinha mandado.
Pensei que a enfermeira iria concordar comigo, mas enganei-me, esta respondeu-me que o melhor seria mesmo ir à urgência.
"Estou lixada", pensei, "agora como é que vou para as urgências? E logo no dia de aniversário do Xico!".
Liguei ao meu marido e contei-lhe como tinha corrido o telefonema para o hospital ao que ele me respondeu que me preparasse, que ele ia pedir ao pai para me ir buscar e levar ao hospital.
E assim foi, entre preparar-me, o meu sogro ir-me buscar e levar para o hospital, cheguei às urgências por volta das 12h.
Pelos vistos não fui a única... foi a primeira vez que vi a urgência de obstetrícia tão cheia... pensei, "oh diabo, isto vai demorar".
E demorou... a urgência estava cheia e o bloco de partos também, ao ponto de terem que efectuar uma pequena cirurgia na urgência... conclusão, não havia nenhum médico disponível.
Faço a triagem e a enfermeira informou-me que me iria fazer o CTG e, por indicação do médico que estava de serviço à urgência, o famigerado "toque" e que, depois, teria que aguardar um bocado pois as coisas estavam atrasadas, uma vez que os médicos estavam todos ou no bloco de partos ou numa operação.
"Eu sabia que devia ter ficado em casa", pensei.
Termina a operação e os médicos vão almoçar - indignação (quase) geral na sala de espera. É uma urgência de obstetrícia, mas também atende as situações de ginecologia que a urgência central para lá encaminha e no meio daquela sala de espera as grávidas foram as que menos ficaram indignadas; não percebi o porquê de tanta resmunguice, os médicos não estavam ali a brincar, estiveram várias horas numa cirurgia ali na urgência, também tinham direito a alimentar-se, até é preferível esperar mais um pouco a ter um médico a desfalecer-me na consulta ou fazer esta a correr só para ir comer... enfim...
Já perto das 16h, e esfomeada, pedi ao meu sogro se me ia buscar uma sandes.
Como a sandes de queijo e lá sou chamada ao gabinete. Começa a consulta, a médica pega no meu boletim da grávida, folheia-o e diz-me:
- Esteve internada com uma pielonefrite às 28 semanas e, semana e meia depois da alta, teve gripe A.
- Não - respondo calmamente - foi gripe normal.
E ouço em resposta:
- Não, foi gripe A, está aqui no seu boletim positivo para H1N1.
- Ah... foi? Eu fui à urgência a mando da minha obstetra, fiz a zaragatoa, fui para casa e comecei a tomar o tamiflu e no dia seguinte quando sairam os resultados efectivamente não me disseram que não era gripe A, disseram-me que tinha gripe e para continuar a tomar o tamiflu. Como não me disseram que tinha que ser internada assumi que era gripe da normal - respondi calmamente.
- Não, foi gripe A, por isso teve que continuar com o tamiflu, que só se toma para a gripe A e não foi internada porque não foi necessário, foi uma forma mais leve provavelmente.
"Não interessa se foi leve, tive gripe A, cooooolllll", pensei.
Continua a consulta e a médica pede-me para me preparar para me fazer uma ecografia e outro "toque" ("que mania é esta com os toques... deixem-me os miúdos sossegados, que eles têm que se aguentar mais 2 semanas").
As coisas começam a correr mal, tinha uma pequena perda de sangue, pelos vistos o CTG acusava contrações e recebo a notícia de que teria que ficar em observação durante a noite no bloco de partos.
Eram 17h, já no bloco de partos, tenho direito a um rebuçado floco de neve (o primeiro de três até às 9h do dia seguinte), enquanto me "amarravam-me" ao CTG.
É aí que explicam que não me podia mexer muito para que as sondas não saíssem do sítio e mostram-me onde está a arrastadeira e o papel higiénico... espera lá! Penso eu, como é que vou chegar à gaveta para tirar o papel e ainda pior à prateleira de baixo da mesa de cabeceira onde está a arrastadeira se não me posso mexer... e mesmo que pudesse, com as 3 sondas do CTG e o cateter do soro espetado no pulso, eu não me conseguia mexer mesmo. Ia ser uma noite interessante...
Algum tempo depois, recebo a visita do meu marido, que ficou comigo só até às 20h, porque ia ter com uns amigos que lhe ofereceram o jantar.
Apareceu-me mais tarde às 23h, a tresandar a alho e a gabar-se que o jantar tinha sido muito bom... sim! Entrou em detalhes, pôs-se a descrever o que comeram e eu ali...
- Sabes que eu comi uma sandes de queijo às quatro da tarde e não pude comer mais nada, certo? Deram-me um rebuçado floco de neve e um pouco de chá num copo de café e não posso comer mais nada enquanto aqui estiver. (É possível que no delírio da fome o tenha mandado fazer um passeio a um sítio muito específico). Ficou até à meia-noite e depois foi para casa porque no dia seguinte era dia de trabalho.
E eu ali fiquei...
Bem, a história com a arrastadeira... a primeira vez que a tive que usar, não conseguia alcançá-la pelo que carreguei na campainha para chamar uma auxiliar. Veio a auxiliar que me respondeu prontamente, quando expliquei o que queria, que estavam ali mais senhoras em trabalho de parto e as auxiliares não podiam estar a fazer aquele serviço de dar / colocar as arrastadeiras. Respondi, um pouco a medo, que compreendia, mas que tinham colocado a arrastadeira e o papel num sítio inacessível para mim. Pareceu compreender e lá me ajudou. É claro que fiz logo uma nota mental: "isto da arrastadeira é complicado, não vais poder ir à casa de banho por isso, cruza as pernas e aguenta".
A noite passou-se relativamente bem, se não contarmos com as dores constantes e o facto de estar toda enrolada em fios. Por esta altura (na realidade já antes das 20 semanas que era assim) eu só conseguia dormir de lado, o lado correcto é o esquerdo, mas o peso da barriga sobre a anca já era tanto que não conseguia dormir a noite toda sobre o lado esquerdo, então passava a noite toda a virar-me ora para a direita, ora para a esquerda. É claro que, quando estamos ligadas a uma série de fios e um cateter torna-se muito mais difícil virar para um lado e para o outro. A meio da noite veio a médica anestesista ter comigo para perguntar se me estava a sentir bem, respondi que tinha algumas dores nas costas por causa do peso da barriga, ao que ela me diz "não, você está com contracções, quer que lhe dê algo para as dores?", "não, eu sou masoquista e gosto de sofrer" pensei, "sim, se fosse possível", respondi. As dores não passaram completamente, mas aliviaram o suficiente para me permitir dormir um pouco melhor.
Às 8h da manhã foi a mudança do turno e de repente vejo o quarto cheio de estagiárias, pânico! Lembrei-me logo que aquele era um hospital universitário e tinha assinado um termo onde reconhecia esse facto e autorizava ser examinada por médicos estudantes... "oh Meu Deus, esta gente toda vai fazer-me o toque?!?", pensei. Felizmente só a médica obstetra fez o toque. 
Finalmente disseram-me o que já sabia, tinha algumas contracções, mas irregulares, nada de sinal de trabalho de parto, iria ter alta do bloco de partos (ainda tive que ficar mais um dia sob observação na enfermaria) e já poderia comer.
E assim foi que, os manos quase nasceram no dia de aniversário do pai.




segunda-feira, 9 de março de 2015

Primeira doença da Bea e a mãe só tem um colo

Costuma-se dizer que ser mãe de gémeos é especial - ok, as mães de gémeos é que o costumam dizer.
Eu acho que ser-se mãe, seja de um, dois ou mais é especial ponto final. Não quero com isto dizer que uma mulher não é especial se não for mãe, acho que todos teremos algo que nos torna únicos, especiais e, apesar de ser muito rígida em muita coisa, não acredito que uma mulher tenha que ser obrigatoriamente mãe, é uma escolha de vida e isso não a diminui em nada.
Mas voltando ao assunto de hoje.
Descobri que ser mãe é muito especial, tem magia.
Contudo ser mãe de mais do que um filho tem as suas desvantagens - é que eu só tenho um colo!
A Bea tem andado adoentada, diarreia, alguns vómitos e falta de apetite (quem a conhece bem, estranha) e depois de um sábado complicado com 4/5 mudas de roupa e uma muda de roupa de cama às 2 da manhã e o mano com febre (poderá dar origem a uma história engraçada, mas não hoje), o domingo foi calmo o que indiciava melhoras, mas isso não aconteceu.
Voltou o mal estar da Bea e acabei por ter que a levar às urgências.
Custa ver a minha "pulguinha eléctrica", muito quieta, só aconchegada ao colo, chorosa e a recusar a comida.
Mas o que custa mais é ter o mano a querer também colo e não saber como fazer. A mana está adoentada é certo, mas não é fácil ver o mano cair e magoar-se quando brincava e chorar sentido porque não é a mãe que o está a confortar.
Acabei sentada no sofá com os dois em cima de mim agarrados ao mesmo pescoço.
E depois vêm as dúvidas: ao contrário do que pretendia, estou a criar duas crianças demasiado dependentes dos pais? E quando dou colo a um e digo ao outro que agora não pode ser, estarei a criar e alimentar ciúmes e atritos entre irmãos?
Não sei como será no futuro, mas para já não me, ou antes não nos importamos que estejam mais dependentes de nós; é muito cansativo física e emocionalmente, mas quando se enroscam em nós para adormecerem tudo fica melhor.